" Há algumas décadas atrás, ainda criança, ficava maravilhado ao ver o meu avô, o Mestre "Jaquim", um sapateiro de uma aldeia do interior Algarvio, a praticar as suas artes.
Passava horas (não havia televisão, telemóveis, nem internet...), a vê-lo cortar a pele, fazer o fio para coser, ainda não se usavam os fios encerados vendidos em rolo que se usam na actualidade, e com mestria colocar as cerdas (pelo de javali) nas pontas afinadas do fio, a servirem de ajuda para atravessar a pele anteriormente furada com uma sovela.
Dessas memórias das férias passadas em Benafim, veio o gosto e a vontade de aprender as artes do couro. Após o primeiro coldre que mandei coser a um sapateiro, não tendo ficado satisfeito com a costura de máquina, pedi alguns conselhos a meu pai: das suas memórias e das minhas resultaram experiência.
De colegas e amigos que, vendo as minhas peças, me fizeram as primeiras encomendas, rápidamente passei a fornecer primeiro um armeiro que existia na Praça de Londres, e depois outro e outro. Fiz trabalhos de pele para o Banco de Portugal, Policia Judiciária, Força Aérea, etc.
Sempre tentando melhorar, foram livros e livros devorados, revistas, DVD´s, internet e acima de tudo experimentar, falhar, mas nunca desistir.
Depois veio a oportunidade de praticar outra paixão: a cutelaria. E aí pude dar largas á imaginação: as bainhas ganharam pinturas, gravações, embutidos, moldagens e todo um sem fim de coisas que o artesanato em pele permite.
Sérgio Santos
Adaga inspirada na Fairbairn & Sykes